A menininha (que folheava uma daquelas clássicas revistas do tempo das cavernas, o que é bem típico de consultório) apontou para uma gravura e perguntou ao pai:
- Pai, o que é isso?
-Ah filha, isso é um aparelho muito antigo, que nem existe mais. Isso é um toca fitas.
- E pra que serve?
- Servia para tocar fitas cassetes.
- E o que é fita cassete?
- Bom... fita cassete filha... é uma fita onde se gravava músicas para depois colocar para escutar no toca fitas. Esse toca fitas podia estar em um quarto, no trabalho, na escola ou até mesmo nos carros.
- Pai, fita que nem fita de embrulhar presente?
- Não, não filha. Você lembra que eu lhe mostrei uns dias atrás uma fita de vídeo?
-Lembro.
-Então filha, fita cassete é igualzinha a um fita de vídeo, só que menor.
-Menor quanto?
-Bom, menor tipo assim (o pai da menina mostrou fazendo gestos para a criança).
- Pai, e por que não se usa mais?
- Porque as pessoas começam a criar coisas novas e mais modernas, daí o que é mais antigo vai se usando cada vez menos até que ninguém mais usa.
-Pai, se a fita cassete se escutava música então ela foi substituída pelo CD né?
-Isso mesmo filha.
Eu deveria estar de boca aberta e perceptívelmente visível que os escutava descaradamente.
Pena que o doutor me chamou e eu não pude verificar se essa deliciosa conversa continuou ou não.
Fiquei totalmente impressionada: tanto com a atenção que o pai deu à criança (respondendo tudo o que ela perguntava com muita calma) como com o assunto em si.
Saber o que é um toca fitas ou uma fita cassete é algo relativamente fácil para nós, agora, tenta explicar facilmente isso para quem nunca viu um objeto desses e nem sequer sabe para que serve (e olha que estamos falando de uma menina de 8 anos!!!!).
Esse pai falou uma coisa muito verdadeira: coisas antigas começam a serem usadas cada vez menos até que praticamente desaparecem.
Sempre foi assim durante a história da humanidade, porém, a velocidade de mudar de objetos/conceitos antigos para novos é que está cada vez mais frenética e a mil por hora.
Eu tenho 25 anos, ainda sou nova, mas a minha infância que ocorreu nos anos 80/início 90 foi muito parecida com quem passou a infância nos anos 70, por exemplo:
Ao invés de desenhos violentos ou em 3D, tínhamos desenhos mais inocentes tipo caverna do dragão;
Ao invés de ficar o dia todo em frente ao computador, ficávamos o dia todo brincando com toda a vizinhança do bairro;
Ao invés de patinete, brincávamos com pogobol;
Ao invés de pânico na tv, víamos os trapalhões;
CD? DVD? que era isso?? A gente escutava mesmo era disco de vinil do Trem da alegria e da Xuxa e víamos desenhos gravados em fita VHS váaarias vezes de preferência e morreeeendo de tanto rebubinar o troço;
Quando eu tinha 9 anos é que fui apresentada ao "Sr. CD", ao "Sr. Computador" e por aí vai.
Ainda me lembro (claro, não cheguei a usar) da máquina de escrever... tinha uma em casa que meu pai usava... nossa... e isso foi ontem!!!!
As novidades são excelentes para nossa evolução, nosso desenvolvimento (o GPS por exemplo, fizeram esse troço para mim, pois eu sou o pior ser do mundo no que diz respeito a senso de direção), mas, será que não está indo rápido demais?
Percebo que as crianças estão amadurecendo mais cedo... perdem precocemente essa fase da inocência e ingenuidade que é tão boa...
Perdem rápido porque é muita informação bombardeando a cabeçinha deles desde que nascem...
Não sei a opinião de vocês, mas não troco a infância que eu tive com os "aparelhos arcaicos" de forma alguma pela infância que as crianças estão tendo hoje: cada vez mais moderna e mais fria.
E lá vai uma foto do "Sr. Atari", representando aí todos os finados senhores e senhoras de um tempo muito bacana:
